Wednesday 25 November 2015

Relatório que avança medidas concretas para acabar com a concorrência fiscal agressiva na UE aprovado por larga maioria no PE

 Um ano depois do escândalo LuxLeaks, que revelou a extensão dos acordos fiscais antecipados (mais conhecidos por tax rulings) concluídos entre vários governos da UE e centenas de grandes empresas mundiais para reduzir a sua factura fiscal, o Parlamento Europeu aprovou por larga maioria o relatório - de que sou co-autora - e que avança uma série de recomendações para acabar com a fraude e evasão fiscal das multinacionais na Europa.


Aprovado por 508 votos a favor, 108 contra e 85 abstenções, o relatório encerra 10 meses de trabalho intenso no quadro de uma Comissão Especial criada pelo PE para averiguar o conteúdo e os efeitos destes acordos (TAXE).


Enquanto co-relatora, e juntamente com vários membros desta comissão visitámos alguns dos países habitualmente mais associados a estas práticas da UE (Bélgica, Luxemburgo, Holanda, Reino Unido e Irlanda), a par da Suíça. Em várias reuniões da Comissão TAXE, ouvimos igualmente o testemunhos de largas dezenas de pessoas, incluindo ministros, trabalhadores e responsáveis das administrações fiscais, das empresas de consultadoria e de aconselhamento fiscal, das próprias multinacionais – que resistiram durante meses a comparecer perante a TAXE – jornalistas, lançadores de alertas de práticas irregulares, pequenas e médias empresas, fiscalistas, académicos, peritos, sindicatos, organizações não-governamentais, etc.

O diagnóstico deste relatório é claro: cada país da UE acaba por funcionar como o paraíso fiscal dos parceiros ao oferecer às empresas esquemas mais ou menos sofisticados para atrair rendimentoss para o seu território. Graças a estes esquemas as multinacionais apenas precisam de abrir “caixas de correio” ou sucursais com um número simbólico de funcionários, para onde transferem lucros sob a forma de dividendos, royalties ou juros, e que, consoante os países, não são tributados ou são-no de forma simbólica. Estes rendimentos saem frequentemente para paraísos fiscais sem terem pago qualquer imposto na UE.


Esta situação é “politicamente insustentável” porque, desta forma, as multinacionais pagam taxas efectivas de imposto sobre os lucros frequentemente inferiores a 5%, o que significa que a carga fiscal necessária para alimentar os orçamentos nacionais e os serviços públicos essenciais como a saúde, educação ou infraestruturas, são suportadas essencialmente pelas pequenas e médias empresas e pelos cidadãos individuais.

A dificuldade do combate a esta injustiça fiscal tem sido provocada pelo facto de as decisões em matéria fiscal na UE serem obrigatoriamente tomadas por unanimidade dos seus 28 Estados membros, o que significa que basta o veto de um Governo para bloquear qualquer progresso.

Esta situação tem de mudar e a única forma de o conseguir será através da forte pressão que os cidadãos e os seus representantes consigam exercer sobre os Governos para mudarem as leis e, simultaneamente, sobre as empresas para tomarem consciência da sua responsabilidade social pagando a sua quota parte de impostos. A melhor publicidade que uma empresa poderá fazer junto dos cidadãos, sobretudo no actual contexto de fortes aumentos da carga fiscal e de redução de serviços mínimos essenciais do Estado, será anunciando: “eu pago os meus impostos”.

O relatório agora aprovado contém dezenas de recomendações à Comissão Europeia (o órgão executivo da UE) e aos Governos da UE que incluem, entre muitas outras medidas, um apelo para que as multinacionais sejam obrigadas a declarar os lucros e os impostos pagos em cada país onde operam; uma base comum e consolidada em toda a UE para o cálculo dos impostos sobre os lucros das empresas; uma lista comum europeia de paraísos fiscais e sanções para todos os que lidam com eles; um quadro comum europeu de protecção dos lançadores de alerta de práticas irregulares, que inclui um fundo para compensar eventuais perdas financeiras ou a perda dos postos de trabalho em resultado das denúncias; um regime de incompatibilidade para as empresas que fornecem simultaneamente consultadoria fiscal aos Governos e às instituições europeias e aconselhamento fiscal às empresas sobre esses mesmos temas; e a troca automática de informações sobre os acordos fiscais antecipados com empresas.

Com a votação no plenário do PE, o mandato da Comissão Especial TAXE termina a 30 de Novembro, mas o PE está já a preparar uma forma de prosseguir o trabalho iniciado no quadro de uma nova comissão especial, provavelmente com a mesma estrutura e membros, para continuar a averiguar a situação da evasão fiscal na Europa e acompanhar e vigiar a aplicação concreta das recomendações agora aprovadas.

A minha intervenção inicial, enquanto co-autora do relatório, no debate de ontem:


A minha intervenção de conclusão do debate, igualmente ontem:


O resultado da votação do relatório, hoje:




Versão inglesa do relatório:
http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+TA+P8-TA-2015-0408+0+DOC+XML+V0//EN&language=EN

Versão portuguesa:
http://www.europarl.europa.eu/sides/getDoc.do?pubRef=-//EP//TEXT+TA+P8-TA-2015-0408+0+DOC+XML+V0//PT


Indicações de voto para algumas das propostas de alteração:

Positivo

Positivo


Positivo
Negativo



No comments:

Post a Comment